O que a quarentena nos ensinou como família e como indivíduos
Sim, eu sei, este quadro é pra contar as histórias de viagens do nosso pequeno Eduzito. Mas eu não poderia deixar as memórias (e lições) destes meses de isolamento se apagarem! Hoje, 31 de julho de 2020, completamos pouco mais de quatro meses praticamente isolados, em casa. Sem escola, sem parquinho, sem casa da vovó, com muita criatividade e muito aprendizado.
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Começamos bem, plantamos feijões no algodão, fizemos maratona de pular travesseiros, aprendemos as cores, pintamos algumas paredes, comemos muita pipoca (e chocolate) enquanto a mamãe fazia suas reuniões. Chegamos ao quase colapso emocional como família e furamos a quarentena para passar uma semana na casa da vovó. E agora entendemos que, com cuidados, precisaremos flexibilizar a quarentena para manter a saúde mental. Esse foi o nosso ciclo até agora, não estamos livres e soltos completamente, mas flexibilizando em alguns pontos.
Escrever para o Edu que foi tenso, que doeu, que o mundo parece estar de ponta cabeça seria muito fácil. Mas não é essa memória que eu desejo a ele, quero que lembre o quão resiliente ele foi, o quão importante ele foi pra gente e o quanto fomos felizes e aprendemos. Por isso vou listar aqui todos os momentos memoráveis que vivemos, por que sim, no meio do caos brotou muita coisa boa dentro do nosso casulo. Tenho certeza que aí também, não é mesmo?
Edu aprendeu a colocar as coisas no bolso da calça e nós achamos muito fofo! Só que, de vez em quando, ele erra e coloca algumas coisas dentro da calça rsrs. Esses itens ficam dançando entre a cintura e os punhos até um de nós (papai ou mamãe) perceber. Pensem em cada susto que já levamos quando fomos trocá-lo, abaixamos a calça e pá.. pula um mini dinossauro, uma caixinha ou alguma coisa pra fora.
Teve até um dia que a chave do escritório sumiu com o escritório trancado. “Edu, cade a chave filho?” eu perguntei muita vezes. “Aqui mamãe, aqui..” e ele apontava pra janela da sacada. Desci, procurei e não achei. Marido desceu, procurou e não achou. Chamamos a vizinha e pedimos as chaves dela pra testar, não funcionaram! Até que escureceu e resolvemos ligar para o chaveiro. Enquanto o marido fazia a ligação, resolvi dar um banho no Edu. Abaixei as calças e pá! A chave caiu e nós, que estávamos pertinho de explodir, caímos na gargalhada.
Edu também criou um amor bizarro pela pipoca que ele chama de “poca”. Dia sim outro também estouramos poca e assistimos desenhos na parte da tarde. Teve Divertidamente que ensinou pra ele o que é raiva, tristeza e alegria. Teve Toy Story, Moana, Toy Story, Moana, Toy Story e Moana rsrs. Mas pelo menos Edu come um montão pra ficar forte igual o Mauí, amigo da Moana.
Em uma noite dessas Edu me pareceu meio resfriado e congestionado, fiz uma sopinha e fomos dormir mais cedo. Como já vinha acontecendo antes da pandemia, Edu gosta de dormir na sala e eu acabo dormindo algumas noites com ele por lá. Nesta em especial eu fui, ele estava com a respiração bem travada, pensei: amanhã cedo lavo as narinas com soro.
No dia seguinte ele só falava “poca mamãe, poca”. Achei que era muito cedo pra dar pipoca logo as 8am e ignorei. Servi o ovinho mexido dele, tomei meu café e fomos para a rotina matinal de escovar os dentes do dinossauro e depois do Dudu, lavar o rosto e etc. Então resolvi lavar as narinas dele e de repente, pá.. uma “poca” sai de uma das narinas. Ele aprendeu a colocar as coisas no nariz e colocou um milho da poca que não havia estourado lá, que passou a noite toda quetinho ali, só atrapalhando a respiração do Dudu. Foi engraçado e tenso por que fiquei pensando o que mais ele vai tentar colocar nesse nariz gente?!
Bom, teve muita coisa legal meu filho: você aprendeu a falar por favorzinho e unir as mãos em oração quando quer muito algo, especialmente quando quer chocolate. Aprendeu que tem dias que a mamãe está bem cansada e que um beijinho resolve tudo: “ta dodói mamãe? eu.. beijo você e pronto”. Teve o dia que você pegou a malinha, correu pra porta e disse “passear mamãe”. Teve o dia que fomos ver aviões na beira da estrada e você lembrou do “tiiooo” que conheceu em uma viagem incrível que fizemos pra Porto de Galinhas (provavelmente a memória mais marcante de um voo pra você).
Ah.. e teve o dia que fomos até o bombeiro e o tio ligou as sirenes pra você, a gente dentro do carro e ele no carro de bombeiro, o “uiu uiu”. Você ficou feliz de um tanto que nem sei explicar. Teve a asa do Buzz que fizemos de papelão mas ficou muito grande e na esquina de casa já abandonamos. Teve o dia que você comeu a borda de uma pizza quase inteira rsrs.
Teve muita coisa boa, muito abraço, muito amor, muito carinho, muita brincadeira! Teve canseira, birra e briga sim, não se engane. Mas não me lembro bem delas, passaram ofuscadas pela sua alegria. E na realidade, todas as brigas e birras foram oportunidades para nos mostrar o quanto ainda precisamos aprender, conversar e nos acalmar. Em uma das birras nasceu o nosso lema “respira, respira, respira” que você fala “repira, epira, repira” rsrs. Estamos vivendo inúmeras oportunidades de, com a calma que o excesso de tempo nos traz, lidar com nossos problemas de maneira mais compreensiva, de maneira mais positiva.
E com tudo isso, como família e como indivíduos, aprendemos uma lição importantíssima: é essencial criarmos tempo para viver esses momentos. Na correria do dia a dia a TV faz muitas atividades triviais desaparecerem e o distanciamento afetivo aumentar. Não estou aqui julgando ninguém por que me incluo nessa, mas ficou claro que É URGENTE ter esse tempo. Algumas reflexões que eu fiz comigo mesma –> Será que eu realmente preciso ir 5 vezes por semana na academia? Se eu faltar um dia da academia e dedicar esses 90 minutos ao meu filho? Será que eu preciso realmente estar presente em todos os eventos sociais que sou convidada? Será que aquele e-mail não pode esperar amanhã? Será que hoje não vai melhor um delivery e uma hora de brincadeira com meu filho do que arroz e feijão fresquinho?
Teve um dia que eu precisei correr pro banheiro e chorar lágrimas doloridas, Edu me deu um banho de realidade. Estávamos brincando de pega pega, eu já tinha trabalhando cerca de 3 horas durante a soneca dele mas tinha pendências que eu queria muito limpar naquele dia mesmo. Pois bem. entre uma corrida atrás dele e outra, eu tentava me livrar de alguma daquelas pendências. Até que, Edu pegou o meu celular, colocou em cima da mesa e disse “agora eu mamãe, eu..o oi não pode” (ele chama o celular de oi). Neste momento eu me dei conta do quanto eles sentem essas distrações que nós colocamos no dia a dia.
Tem tanta coisa que dá pra ajustar pra termos mais tempo não é mesmo? E cada família vai saber como fazer isso dentro da sua rotina e das suas prioridades. Fato é que precisamos aceitar que “criar tempo com nossos filhos” é urgente, é essencial, é importante, é crucial para uma educação saudável e emocionalmente conectada!
Acho que é isso pessoal. Um pouquinho do meu coração pra vocês misturado a memórias desta quarentena.